Fui crescendo, estudando e cercada de discriminação. A familia da minha mãe me discriminava porque meu pai tinha uma condição de vida melhor, porque eu era a unica branca da familia, porque meu pai tinha deixado minha mãe e casado com a amante. Agora eu me pergunto, esses monstros não sabe que uma criança não entende nada disso, que não tem culpa de nada...
A familia do meu pai, me discriminava porque eu era filha da louca da minha mãe, que fazia escandalos no trabalho dele. Eu cresci no meio dessa guerra e vi meus irmão (filhos do meu pai) tendo uma educação completamente diferente da minha, com conforto, atenção, estrutura. E eu aos trancos e barrancos (presenciando convulsões da minha mãe, uma tentativa de estupro quando ela saia pra arrumar emprego, crises de esquizofrenia). Aos vinte anos mudei de cidade e me afastei da familia dela, me afastei de todos inclusive e minha vida melhorou bastante. Em outubro de 2003 conheço o Luiz em um farol, epâ! não é isso que vocês estão pensando! Eu estava no meu carro parada no farol e ele no dele, nos olhamos, paramos no posto de gasolina e começamos a conversar, desde então estamos juntos. Quanto estavamos com sete meses de namoro, compramos nosso apartamento, não nos casamos na igreja, nada convencional, fomos ao cartório marcamos a data e no dia assinamos os papéis, depois levamos nossos padrinhos para almoçar na churrascaria e pronto. Não teve lua de mel, não teve presentes, ninguém ficou sabendo além dos nossos amigos. Não tinha mais contato com as familias (as vezes falava com minha avó materna pelo telefone). Meu pai não foi, ficou sabendo bem depois, acho que nem se importava. Depois ele se separou e começamos uma reaproximação. Hoje temos uma relação muito boa, mas não a ideal. Estou escrevendo tudo isso porque andei vendo alguns blogs de meninas que casaram, sairam da casa dos pais, planejam seus bebes. É claro que semprei sonhei com tudo isso, queria sim ter um casamento na igreja, fazer lista de presentes, chá de cozinha, entrar com meu pai na igreja, ir pra lua de mel, chegar e encontrar a casa toda arrumadinha com tudo novo. Mas não foi assim que aconteceu, a familia da minha mãe nunca me deu um telefone sequer, nunca vieram me visitar e nem me convidam para ir a casa deles, também não vou ficar correndo. A do meu pai então... Essa se eu ver alguém na rua não reconheço, tive falando com meu tio, irmão do meu pai esses dias, ele é muito legal me convidou para ir a casa dele, a mulher dele também é uma ótima pessoa (já foi prostituta, por isso é mais humilde), teve vida dificil no passado e como é muito discriminada não discrimina ninguém. Mas não temos tido tempo de ir lá, é bem longe e tudo, quem sabe um dia. Por isso a familia tem um valor muito alto pra mim, que não tive nenhuma. Não quero só dar boas condições financeira para os meus filhos, quero proporcionar-lhes uma vida feliz, cheia de sonhos, rodeados de muito amor. Quero fazer festas de aniversario pra eles (nunca tive quando criança), quero ir nas reuniões escolares (ninguém nunca foi numa reunião minha), quero fazer a sua formatura, quero comemorar cada conquista que eles tiverem, quero estudar junto para o vestibular, quero ser amiga, mãe e companheira para todas as horas, quero ser o apoio de todos os momentos. Quero ve-los casando, arrumando o primeiro emprego. Quero minha casa cheia de amigos da escola fazendo aquela bagunça, enfim quero dar-lhes tudo o que eu não tive e queria.
Vamos ao Luiz
Luiz teve uma vida parecida com a minha, só que em alguns aspectos um pouco pior. Seus pais se separaram quando ele tinha dois anos, ele tinha um irmão doente (sindrome de eisenmenger), e o pai nunca mais os procurou. Morou com a mãe e com a avó, a mãe trabalhava o dia todo e a avó era uma analfabeta que deixava os dois o dia inteiro na rua. A familia da mãe sempre os tratou como os "pobrezinhos", davam roupas usadas, objetos velhos que não precisavam mais. Quando o Luiz cresceu fez Senai e entrou na Ford e foi estudando, fez faculdade (quando nos conhecemos ele ainda fazia faculdade), fez tudo sem o apoio de ninguém, a mãe não tinha a menor perpectiva de uma vida melhor, sempre pessimista, acomodada nas situações. Mas quando nos conhecemos o incentivei muito a querer mais, a crescer. E foi o que aconteceu, ele estudou e ainda estuda, mudou de função na empresa e continua a crescer. Seu irmão morreu, faz mais ou menos um ano e a familia da mãe dele morre de inveja, porque estamos construindo nossas coisas, porque reformamos a casa dela, legalizamos os documentos da casa e ela não precisa pegar roupas velhas de ninguém. Sabe aquelas pessoas que para se sentirem melhor tem que ver os outros na pior, é a familia do Luiz. Eles me odeiam, porque mudei muita coisa. Então assim também não temos contato com a familia dele, apenas com a mãe e a avó que já tem 90 anos e está mais pra lá do que pra cá. As vezes os encontramos porque ele vão visitar a vó. Praticamente o Luiz é sozinho como eu.
E isso faz de nós dois a mesma pessoa, querendo ter uma familia que nunca tivemos, nos reunir em volta da mesa nas refeições, sermos simplesmente uma familia convencional com seus problemas, brigas mas acima de tudo cercada de muito amor, que foi o que mais nos faltou.